quarta-feira, 28 de outubro de 2009

Isolamento - Paredes duplas

O artigo que abaixo transcrevo é bastante esclarecedor e vale a pena ser lido por quem busca mais conhecimentos nestas matérias:

PAREDES DUPLAS. CONCEPÇÃO E CRITÉRIOS DE ESTANQUIDADE

1 - Introdução A utilização de dois panos de alvenaria na execução de paredes exteriores de edifícios corresponde a uma tecnologia com algumas décadas de aplicação. Com efeito, são pouco numerosas hoje em dia as situações em que aqueles elementos construtivos são realizados com soluções diferentes da correntemente designada parede dupla. A experiência recolhida ao longo do tempo mostra, contudo, que são relativamente frequentes os casos de insucesso na execução desta tecnologia, traduzidos na ocorrência de infiltrações de água da chuva, numa primeira fase, e na proliferação de bolores em zonas humedecidas, quer por influência directa da presença da água, quer em consequência de condensações superficiais decorrentes do acréscimo de condutibilidade térmica provocada pelo aumento do teor de água dos materiais. Com efeito, a ocorrência prolongada de humedecimentos superficiais propicia condições adequadas ao desenvolvimento dos bolores, cujos esporos se encontram dispersos no ar em todos os locais. Daí que as deficiências de estanquidade de uma parede possam provocar, por acção directa, a ocorrência de patologias deste tipo (devendo, contudo, ser realçado o seu carácter sazonal e intermitente, já que apenas se verificarão em concomitância com períodos de chuva). Paralelamente, é sabido que o acréscimo do teor de água dos materiais provoca um aumento da respectiva condutibilidade térmica, fenómeno que é facilmente compreensível tendo em conta que os valores de condutibilidade térmica da água e do ar são, respectivamente, λág = 0,597 W/m.EC e λar = 0,026 W/m.EC, o que significa que a condução de calor num poro de um material com um determinado volume preenchido por água é cerca de 23 vezes superior àquela que resultaria se o volume estivesse cheio com ar. Em consequência, a maior condutibilidade térmica dos materiais humedecidos (designadamente no interior da parede) propicia uma temperatura superficial interior mais baixa e, por essa via, um risco acrescido de ocorrência de condensações superficiais com os consequentes fenómenos de desenvolvimento de bolores que lhes estão associados. 1 Comunicação ao Congresso Nacional da Construção, Lisboa, Instituto Superior Técnico, 17 a 19 de Dezembro de 2001. As infiltrações de água da chuva em paredes duplas indiciam desde logo deficiências de estanquidade resultantes de uma incorrecta concepção na fase de projecto ou de problemas na sua execução. Uma análise por amostragem das paredes duplas em Portugal mostra que o conceito que lhes está subjacente é mal compreendido na praxis corrente, assumindo simplificações que inviabilizam o seu comportamento adequado ou, mais concretamente, introduzindo factores de aleatoriedade inaceitáveis numa óptica de qualidade. De facto e como se verá adiante, aquilo que é correntemente designado como Aparede dupla@ dificilmente se enquadra no conceito genérico que é aplicado com sucesso em vários países europeus, em especial naqueles cujo clima em termos de pluviosidade em sentido lato ou de pluviosidade incidente em superfícies verticais é claramente mais severo do que o nosso. Ora, a execução parcial daquela tecnologia tem como consequência tornar imprevisível o comportamento futuro das alvenarias executadas, introduzindo portanto o factor aleatório atrás referido. 2 - Noção de parede dupla Em termos correntes, uma Aparede dupla@ é aquela que é executada com dois panos de alvenaria, independentemente de quaisquer outras considerações. Por questões de clareza de exposição e de respeito terminológico, estas soluções deveriam ser designadas como de Aduplo pano@ por forma a evitar qualquer confusão com as verdadeiras paredes duplas. Entende-se por parede dupla aquela que é constituída por dois panos de alvenaria fisicamente afastados e adequadamente travados entre si, dispondo dos mecanismos necessários à recolha e condução para o exterior de eventuais águas de infiltração e à secagem dos elementos interiores humedecidos. Apenas nestas condições se pode considerar uma parede como dupla. O princípio de funcionamento das paredes duplas tem tanto de simples como de eficaz: é assumido que, no limite, a água da chuva possa penetrar no pano exterior e escorrer através do seu paramento interior, sendo inaceitável que essa água possa entrar em contacto com o pano interior. Tal implica antes de mais o afastamento físico entre os dois panos como condição indispensável à introdução da quebra de continuidade que assegure a manutenção do pano interior seco. Mas não basta esse procedimento. As eventuais águas que se infiltrem no pano exterior escorrerão através do seu paramento interior e depositar-se-ão na base da caixa de ar, encontrando caminho preferencial para o interior da construção se nada for feito para o evitar. É por essa razão que se torna imperiosa a execução de uma caleira na base da caixa de ar, para recolha de todas as águas de infiltração. Torna-se, então, clara a necessidade de existência de disposições construtivas que conduzam as águas da caleira para o exterior, o que se consegue facilmente através de um simples sistema de drenagem. Ao ser assumido que uma parte da parede pode ser humedecida interiormente, torna-se óbvio o interesse em assegurar condições de secagem minimamente eficazes, por forma a evitar eventuais problemas decorrentes do acréscimo de condutibilidade térmica dos materiais húmidos. Tal como referido anteriormente, todos os cuidados mencionados devem ser equacionados em simultâneo com a necessidade de assegurar um travamento eficaz dos dois panos entre si e destes com os elementos estruturais envolventes, o que se consegue mediante a aplicação de estribos com pendentes orientadas no sentido do pano exterior. Assim sendo, uma parede dupla deve possuir uma caixa de ar sem quaisquer pontos de ligação entre os panos, para além dos que decorram das necessidades de travamento, uma caleira na base com pendentes orientadas para as drenagens que conduzam as águas para o exterior e um conjunto de orifícios na zona superior do pano exterior que assegurem condições de secagem da caixa de ar através da circulação do ar por efeitos da convecção. Ainda que o conceito seja bem entendido, tal não obsta à frequente ocorrência de erros de concepção ou de execução, dos quais se comentam os mais paradigmáticos. Antes de mais deve ser referida a questão da espessura da caixa de ar. No limite, qualquer caixa de ar cuja espessura Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 2 seja superior à dimensão das gotas de água que possam escorrer através do paramento interior do pano exterior será adequada. Mas a questão é um pouco mais complexa, já que o condicionamento não é a espessura mínima para que o princípio seja válido, mas antes aquela que permita garantir que o espaço de ar fica completamente desimpedido. Percebe-se então que uma caixa de ar com 1 cm de espessura pode ser suficiente, se for possível garantir a inexistência de zonas de contacto entre os dois panos, o que, nos casos das alvenarias correntes, se torna difícil de assegurar tendo em conta os eventuais desperdícios e excessos de argamassa de assentamento dos elementos que as constituam. Daí que se possa afirmar que a espessura mínima da caixa de ar deve ser tal que permita garantir a inexistência de zonas de continuidade não desejadas. A questão das caleiras e das drenagens é também fonte de potenciais problemas (nas poucas circunstâncias em que são executadas). De pouco vale ter uma caleira se ela se estiver obstruída por quaisquer objectos ou não tiver pendente para as zonas de drenagem e, sobretudo se estas não existirem ou estiverem mal executadas. Com efeito torna-se necessário assegurar que no processo de execução da parede, nem a caleira, nem as drenagens sejam obstruídas por quaisquer materiais, em particular por desperdícios de argamassa, e ainda que a cota dos tubos de drenagem seja coincidente com a cota mínima da caleira por forma a evitar fenómenos de retenção de água. É muitas vezes fonte de dúvidas a execução da ventilação da caixa de ar, não por que a sua necessidade seja questionada, mas antes pelo facto de se temer que essa ventilação venha diminuir o comportamento térmico da parede. Quando se refere uma ventilação deste tipo está-se sempre a considerar uma situação de ventilação muito fraca, cujas repercussões na resistência térmica da caixa de ar e, consequentemente, na da globalidade da parede são negligenciáveis. Em termos nacionais [3, 4] é considerado que este objectivo é atingido com aberturas cuja área seja inferior a 10 cm5 por metro linear em cada um dos dois níveis considerados, um na base da parede - situação em que os orifícios deverão assegurar simultaneamente a drenagem da caleira - e outro na zona superior. A definição correcta no projecto das características genéricas e, em especial, dos vários pormenores construtivos das paredes duplas, assume um carácter essencial na optimização das tecnologias deste tipo. 3 - Execução de paredes duplas Mesmos nos casos em que uma parede dupla se encontre correctamente definida e pormenorizada no projecto, surgem sempre algumas desconfianças quanto às condições da sua exequibilidade em obra e ainda quanto aos acréscimos de custo daí decorrentes. Tratam-se de objecções injustificadas, como se procurará demonstrar adiante, em especial se for tido em conta as consequências potenciais da sua incorrecta execução. Ainda que o seu custo de execução fosse significativamente mais elevado, o que não é o caso, os encargos com as intervenções de correcção na eventualidade de ocorrência de anomalias, ou os que decorreriam da utilização alternativa de outras soluções construtivas com desempenho equivalente em termos de estanquidade e durabilidade seriam bastante maiores, justificando claramente o esforço de uma execução correcta. Uma dúvida muito frequente diz respeito à correcta localização do pano de alvenaria mais espesso (no caso em que os dois panos tenham espessuras diferentes). A solução correcta deverá Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 3 ser avaliada caso a caso, tendo em conta os dois seguintes pressupostos condicionantes: quanto maior for a espessura do pano exterior, maior será a resistência aos esforços resultantes de eventuais deformações da estrutura envolvente e, consequentemente, menor será a tendência para fendilhar; no caso de paredes duplas com isolante na zona da caixa de ar, quanto maior for a espessura do pano interior, maiores serão os benefícios em termos do aproveitamento da sua inércia térmica como factor de atenuação das variações higrotérmicas no ambiente interior. Deve notar-se que em condição alguma é admissível a utilização de panos de alvenaria de tijolo com espessura inferior a 11 cm, nos termos dos artigos 281 e 251 do RGEU [4]. Tendo em conta que a execução correcta de uma parede dupla é mais difícil no caso de não utilização de isolantes térmicos interiores (anexos à caixa de ar) do que na situação contrária e ainda porque as técnicas podem ser ligeiramente diferentes, apresentam-se de seguida os procedimentos correntes para a construção dessas paredes nos dois casos referidos. 3.1 - Paredes duplas sem isolante térmico interior A sequência de operações deve ser a seguinte, sendo possíveis todas as variantes que respeitem os princípios enunciados: 1) Execução da base de assentamento da primeira fiada do pano exterior, tendo o cuidado de deixar inseridos tubos de drenagem (em geral de material plástico) convenientemente espaçados e situados a uma cota tal que permita a posterior execução da caleira da caixa de ar; os tubos devem prolongar-se claramente para o exterior, muito para além do nível que o revestimento exterior venha a ter. 2) As aberturas dos tubos de drenagem na zona da caixa de ar devem ser tapadas com uma rolha ou, mais frequentemente, com um desperdício de papel (para evitar a sua posterior obstrução). 3) Execução do pano exterior de alvenaria, deixando reentrâncias na argamassa das juntas nas zonas em que se preveja a posterior aplicação de estribos de travamento. 4) Execução da primeira fiada do pano interior, tendo o cuidado de deixar abertas as zonas situadas em frente dos tubos de drenagem. 5) Execução da caleira na caixa de ar, em geral através da realização de uma meia-cana em argamassa (com pendentes para as zonas dos tubos) revestida com uma emulsão betuminosa (vd. fig. 1). 6) Colocação sobre a caleira (depois de seca) de uma protecção provisória constituída em geral por sacos de papel (por exemplo sacos de cimento) ou por plásticos. 7) Execução do pano interior da alvenaria por troços horizontais, de forma a que seja possível rasar os paramentos virados para a caixa de ar do troço efectuado, por forma a evitar que eventuais desperdícios de argamassa estabeleçam pontos de contacto com o pano exterior; estes troços devem ter altura coincidente com o espaçamento vertical entre estribos. 8)Remate do pano interior com o elemento estrutural superior; trata-se de um dos pontos de execução mais sensível quando se pretende evitar a queda de desperdícios de argamassa para a caixa de ar. Podem ser usadas várias soluções, desde o simples cuidado especial, à introdução entre o topo da alvenaria e a estrutura de um tubo flexível perdido que defina o limite da junta a preencher (vd. fig. 2), passando pela solução mais eficaz de fixar previamente na zona inferior do elemento estrutural um perfil que funcione como batente do topo da alvenaria, possibilitando o enchimento da junta sem quaisquer preocupações (vd. fig. 3). 9) Remoção das protecções que foram colocadas na caleira e (muito importante) das tampas dos tubos de drenagem; colocação dos elementos da 10 fiada em falta. Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 4 10) Só após terem sido aplicados os revestimentos de parede exterior (e antes de desmontar o andaime) é que o comprimento dos tubos de drenagem deve ser acertado por corte, de forma a que se destaque 1 a 2 cm da superfície acabada (este procedimento visa garantir que as extremidades dos tubos não ficam obstruídas pelas argamassas de reboco nem pelas pinturas). Fig. 1 Fig. 2 Fig. 3 3.2 - Paredes duplas com isolante térmico interior Considera-se na presente situação que são utilizados isolantes térmicos em placas autoportantes, sendo preferível aquelas que disponham de um sistema de encaixe nas juntas horizontais e verticais. Assim, as operações a realizar serão as seguintes: 1) Execução das tarefas a) b) e c) referidas em 3.1. 2) Execução das duas primeiras fiadas do pano interior. 3) Execução da caleira na caixa de ar, em geral através da realização de uma meia-cana em argamassa (com pendentes para as zonas dos tubos) revestida com uma emulsão betuminosa; a caleira deve ser executada de tal forma que propicie apoio às placas de isolante na zona anexa ao pano interior (vd. fig. 4). 4) Remoção das tampas dos tubos de drenagem (muito importante). 5) Apoio das placas de isolante na zona da caleira preparada para esse fim e respectivo travamento contra o pano exterior, através da utilização de estribos ou outras peças adequadas que os fabricantes dos isolantes usualmente dispõem; soluções alternativas podem ser facilmente concebidas, quer utilizando arame galvanizado, quer desperdícios de materiais sem porosidade aberta tais como poliestireno extrudido: no primeiro caso, deve haver o cuidado de prever uma forma que propicie uma zona de pingo (por exemplo simulando a letra grega γ) e evitar pontas que possam furar o isolante; no segundo, os desperdícios devem ser trabalhados de modo a que os planos das suas faces convirjam no sentido do pano exterior (para evitar migrações de água). 6) Execução das fiadas do pano interior até ao nível imediatamente superior ao da altura das placas de isolante; note-se que neste caso o isolante funciona também como cofragem impedindo que os desperdícios de argamassa caiam para o interior da caixa de ar (torna-se, Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 5 portanto, fundamental assegurar que as placas estão convenientemente travadas em relação ao pano exterior. 7) Colocação de nova fiada de placas de isolante, apoiadas nas inferiores e travadas como se referiu. 8)Execução das fiadas do pano interior até ao nível imediatamente superior ao da altura das placas de isolante. 9) Repetição dos dois procedimentos anteriores até se atingir a totalidade da altura da parede; deve notar-se que na zona superior as placas podem ter que ser cortadas por forma a preencherem totalmente a altura remanescente da parede. 10) Após terem sido aplicados os revestimentos de parede exterior (e antes de desmontar o andaime) procede-se ao acerto do comprimento dos tubos de drenagem, por forma a que se destaquem 1 a 2 cm da superfície acabada. Fig. 4 3.3 - Pontos singulares Foram analisadas anteriormente as formas de execução de paredes duplas em superfície corrente. No entanto, ocorrem inevitavelmente pontos singulares que merecem alguma atenção, em particular aqueles que resultam das ligações com as zonas inferiores de elementos de construção horizontais. Tal é o caso das zonas de ligação das paredes com as vigas ou lajes superiores e com os parapeitos de janelas. Em ambos os casos, as águas de infiltração podem atingir os panos interiores por migração através daqueles elementos horizontais. Independentemente de um tratamento adequado das juntas exteriores de ligação entre as paredes e esses elementos (que poderá ser feito através da utilização de mastiques), os riscos poderão ser drasticamente reduzidos mediante a execução das seguintes técnicas: S ligação das paredes com vigas ou lajes superiores: criação de uma zona de pingo na superfície inferior da viga ou laje, localizada na metade exterior da caixa de ar, através da fixação por colagem ou aparafusamento de um perfil plástico ou metálico (não oxidável) em forma de L; com este processo, a água que migre pela zona inferior da viga ou da laje pingará para a caleira, não atingindo o pano interior; S ligação com parapeitos: estas peças deverão possuir uma pingadeira na sua zona inferior, consistindo apenas num rasgo contínuo a todo o comprimento das peças (a água fica assim impossibilitada de atingir a junta de ligação entre a parede e o parapeito, a qual constitui uma zona particularmente sensível). Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 6 3.4 - Revestimentos exteriores As paredes duplas executadas com elementos descontínuos correntes são vulgarmente acabadas com rebocos de ligantes minerais, muito embora persista um razoável desconhecimento quanto às soluções e, sobretudo, aos fundamentos que justificam e orientam a sua execução. Em termos gerais, um reboco adequado deverá ter três camadas distintas, com formulações e finalidades diversas [5]. Essas camadas são, por ordem sucessiva de aplicação, as seguintes: S 10 camada: designa-se vulgarmente por crespido e tem como dupla função aumentar as condições de aderência das restantes camadas à parede e diminuir a absorção de água do suporte; para tal, essa camada deve ter a maior aderência possível e uma quantidade de água bastante elevada. Esses objectivos são conseguidos utilizando uma argamassa de cimento e areia (traço volumétrico 1:3) com água em excesso; note-se que a inevitável grande fissuração que esta argamassa irá sofrer é irrelevante, tendo em conta os objectivos a que se destina. Como é compreensível, a superfície desta camada deve constituir uma zona irregular e eventualmente descontínua. S 20 camada: designa-se por camada de base e tem como objectivos contribuir para a estanquidade global e garantir planeza, verticalidade e aderência em relação à camada subsequente. Deve ser executada com uma argamassa com boa aderência mas baixa tendência para fendilhação, sendo usualmente recomendadas argamassas bastardas com traços volumétricos de cimento, cal aérea e areia 1:1:6 ou 1:2:9. S 30 camada: designa-se por camada de acabamento, tendo por objectivos contribuir para a estanquidade global e constituir a superfície final do reboco. Preconizam-se para este fim argamassas bastardas com traços volumétricos de cimento, cal aérea e areia 1:2:9 ou 1:3:12. O sistema assim constituído obedece a alguns pressupostos relevantes que é conveniente lembrar. Em primeiro lugar, nenhuma das camadas deve ser aplicada sem que a anterior esteja bem endurecida e tenha tido o tempo necessário para desenvolver a fissuração que lhe esteja associada. Só assim se podem ter garantias de que a fissuração das várias camadas (que se verifica quase sempre, com maior ou menor desenvolvimento) ocorre de forma desencontrada. Logo, a probabilidade de ocorrência de fissuração no mesmo local em camadas subjacentes diminui drasticamente, melhorando as características de impermeabilidade da parede. É esta a razão fundamental para execução das camadas referidas. É sabido que quanto maior for a dosagem de cimento de uma argamassa melhor será a sua aderência e maior o risco de fendilhação. Inversamente, nas argamassas de cal aérea (não confundir com cal hidráulica) a aderência e a tendência para fendilhar são baixas. Daí a razão de se utilizarem argamassas bastardas com aqueles dois ligantes, de forma a que se verifique o princípio de composições progressivamente mais fracas do interior para o exterior. Note-se que nos traços referidos o teor de ligante é sempre constante (1:3), verificando-se apenas variações nas percentagens relativas entre os dois ligantes utilizados. Assim, uma composição 1:3:12 é mais fraca do que a 1:2:9 na medida em que naquele caso o cimento representa 25% do total de ligante, enquanto neste essa percentagem é de 33%. É usual utilizar aqueles três traços de uma forma contínua, o que significa que se na camada de base se usar 1:1:6 na de acabamento se deve optar por 1:2:9, enquanto que se naquela for seleccionado o 1:2:9 nesta se deve usar 1:3:12. As areias empregues deverão ser preferencialmente areias naturais lavadas (por exemplo areia de rio), devendo ser limitado ao máximo o uso de areias com componentes argilosas (por exemplo areia amarela). Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 7 4 - Anomalias mais frequentes Em complemento ao que se referiu anteriormente, torna-se conveniente proceder à sistematização das anomalias, apresentando-as de uma forma destacada: S inexistência de caixa de ar (ou caixa de ar com espessura inexequível) S ausência de caleira de recolha das água na caixa de ar S ausência de drenagens que conduzam as águas para o exterior (ou drenagens obstruídas) S existência de desperdícios de argamassa ou estribos com pendente incorrecta criando ligações entre os dois panos S inexistência de pingadeiras nas zonas inferiores dos elementos horizontais com projecção para o exterior (parapeitos, varandas, etc.) Embora com menor frequência são também vulgares as situações em que as placas de isolante são colocadas na caixa de ar sem qualquer fixação, apoiando-se em ambos os panos, constituindo pontes para a passagem de água para o interior. 5 - Fundamentos da utilização de paredes duplas A utilização da tecnologia de parede dupla é tradicional no nosso País desde há décadas, muito embora com os erros e condicionantes referidos anteriormente. A sua generalização decorreu da necessidade de garantir condições de impermeabilidade aceitáveis para as paredes de edifícios, cumprindo simultaneamente requisitos de economia e de durabilidade. Anteriormente à generalização dessa tecnologia, a forma de garantir estanquidade às paredes decorria do acréscimo da sua espessura, no pressuposto de que as intensidades normais de chuva incidente não seriam suficientes para propiciar um atravessamento total desses elementos até aos paramentos interiores. Tratava-se, portanto, de executar alvenarias com grandes quantidades de material e, consequentemente, pesos próprios elevados, o que aumentava os custos e dificultava a concepção das estruturas reticuladas de betão armado. A parede dupla veio permitir aligeirar e diminuir a espessura desses elementos, garantindo, quando bem executada, uma estanquidade consideravelmente superior. As razões da generalização verificada prendem-se, pois, com um acréscimo potencial de qualidade, associado a uma diminuição de custos. Acresce ainda que a durabilidade da solução é, em condições correntes, bastante elevada. A eficiência e simplicidade desta tecnologia desaconselham ou tornam redundantes a introdução de alterações baseadas na eventual maior eficiência de novos revestimentos de parede de grande estanquidade, os quais se baseiam em soluções e materiais de durabilidade em geral mais reduzida do que aquelas que constituem a solução padrão descrita anteriormente. Daí que a alegação de que certas simplificações na sua execução (por exemplo inexistência de caleira, drenagens, etc.) podem ser compensadas pela maior estanquidade dos revestimentos exteriores apenas poderá ser aceitável numa óptica de curto prazo, função da durabilidade média desses revestimentos. Conforme se torna patente pela análise das formas de execução correcta de paredes duplas, o acréscimo de custo daí decorrente é negligenciável. Na mesma óptica da análise de custos, deve Fernando M. A. Henriques - Paredes duplas. Concepção e critérios de estanquidade 8 ser referida a desnecessidade de execução de paredes duplas (no contexto referido) nos casos em que se opte pela execução de um revestimento descontínuo exterior desligado do suporte, como deveria ser o caso dos revestimentos em pedra aplicados em edifícios com estrutura de betão armado e alvenarias de preenchimento correntes. Nessas situações, e dada a incapacidade dessas alvenarias suportarem as cargas inerentes à fixação mecânica ou por gatos dos revestimentos exteriores de pedra, a solução adequada consiste na aplicação de uma estrutura independente sobre a qual seja fixado o revestimento [6]. Esta estrutura, em geral metálica, é, por sua vez, fixada mecanicamente à estrutura de betão armado ao nível de cada piso. Assim, o revestimento de pedra actuará como pára-chuva, assegurando um funcionamento global equivalente ao da parede dupla corrente. Torna-se, portanto, claro que nestas condições bastará a execução de uma parede simples interior, com o isolante colocado no espaço de ar definido pelo estrutura metálica exterior, sendo que a utilização de uma solução de parede dupla corrente se traduzirá numa redundância, já que o resultado final poderá ser considerado uma Aparede tripla@. 6 - Conclusões A utilização de paredes duplas é desde há muito uma solução tradicional em Portugal. As suas eficiência, durabilidade e custo reduzido constituem vantagens apreciáveis que têm propiciado a continuação generalizada do seu uso, mesmo em épocas de crescente desenvolvimento de novas soluções tecnológicas. A forma deficiente como são executadas em muitos casos leva a que o número de insucessos verificado seja bastante superior ao que seria expectável. Daí que se torne importante relançar esta tecnologia, através da re-proposição das suas formas de execução adequadas, as quais não implicam acréscimos de custo relevantes. Dessa forma torna-se possível optimizar os recursos utilizados, já que para um mesmo dispêndio se obtêm resultados qualitativos inegavelmente superiores.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Isolamento e energias renováveis











Já tendo conseguido a aprovação prévia do crédito à habitação, passamos a centrar as nossas preocupações na necessidade de respeitar o valor estimado para a construção (valor do próprio empréstimo). Assim sendo, temos aproveitado para pedir vários orçamentos, como por exemplo alumínio, carpintaria, blocos, cimento… etc, tudo em busca das melhores soluções e para ponderar o binómio preço/qualidade dos materiais existentes no mercado local em comparação com o continente. Das sondagens que fomos fazendo facilmente se percebe que há materiais que nos compensa comprar lá fora, mas outros não se justificará. Seja como for, já conseguimos assentar que queremos painéis solares e isolamento térmico, wallmate e roofmate, elementos que ainda não são obrigatórias nos Açores, mas que definimos como imprescindíveis, não só para melhorar a protecção do frio e do calor, mas também para prevenir humidades, além de que é um investimento recuperável a médio/longo prazo naquilo que se pode poupar na conta de electricidade (ar condicionado/cilindro) e/ou do gás.
No que toca às energias renováveis, estamos bastante inclinados para a empresa www.nextenergy.pt, pela experiência e preço competitivo que nos propôs para uma solução de painel solar de 300 L (circulação forçada) e de aproveitamento de águas pluviais para esgotos e regas.
No que toca ao isolamento, não vamos optar pela solução do "capoto" (weber), mas nos Açores, pelo menos na Ilha Terceira, seja ele qual for, os preços estão acima do dobro do que é praticado no continente, por isso vamos equacionar se compensa comprar no mercado local ou lá fora. Independentemente disso, à partida, depois de consultar o empreiteiro e o engenheiro, o material que nos agrada mais será o wallmate e roofmate, cuja aplicação terá de ser feita da forma que se vê nas fotos.

sábado, 17 de outubro de 2009

Alvará de construção
















O passo seguinte não foi mais fácil e respeitou à parte burocrática da aprovação do projecto de arquitectura e das especialidades na Câmara Municipal. Mais meia dúzia de meses depois, com algumas dificuldades no caminho, felizmente, conseguimos levantar o Alvará de Construção. Nesse período aproveitamos para seleccionar os empreiteiros com melhor reputação no concelho e pedimos-lhes orçamentos de mão-de-obra, descartando a hipótese de administração directa ou chave na mão. Depois de decidir o banco e as condições do nosso empréstimo, tudo se ultima agora para dar início aos trabalhos no mês de Novembro. Aqui podem ver os desenhos e plantas da nossa futura casa

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

A nossa casinha
















Após decidirmos avançar com a construção da casa, inicia-se um longo calvário, que bem conhecem aqueles que já se meteram nesta aventura. Primeiro fazemos uns rascunhos, convencidos que somos capazes de desenhar uma casa de sonho. A seguir procura-se a arquitecta, no nosso caso ajudou ser a minha cunhada. Depois de vistoriar o terreno, ela decide alterar quase tudo o que tínhamos projectado. Os pontos cardeais, as entradas de luz, o terreno, o equilíbrio entre os espaços, as acessibilidades, a distribuição das áreas de serviço, tudo pormenores que escapam ao comum dos mortais mas que são essenciais no trabalho dos arquitectos. O produto final não vem completamente ao nosso gosto, assentamos no que é para mudar e no que fica, esperamos algum tempo para nos serem apresentadas soluções/ideias novas. Por razões económicas e para evitar gastos acrescidos com terraplanagens, decidimos escolher outro terreno, volta tudo ao princípio, a planta anterior não dá para aproveitar, sucedem-se os mesmos passos e repetem-se alguns contratempos. É preciso assentar numa solução de compromisso, capaz de agradar à esposa que tem um estilo mais arrojado e a mim que sou um pouco mais conservador, foi uma tarefa espinhosa e nisso temos muito a agradecer à Ana Isabel que nos aturou durante esse tempo todo, a ela, aqui, um muito obrigado! Podem ver as fotos do terreno, onde será destacada a área de aproximadamente 2.400 m2 para a construção da casa